Nostalgia que virou negócio: porque voltar ao passado é uma tendência

por Virgínia Soares
O antigo nunca esteve tão na moda

Fala verdade! Você tentou ou conhece alguém muito próximo que montou acampamento nas filas ou nos sites de vendas para comprar o tão sonhado (e concorrido) ingresso para a turnê do ano: o show Nossa História, de Sandy & Júnior. A dupla teve o auge da carreira nos anos 90/2000 e  tem uma trajetória de sucesso que ninguém questiona, mas nada que se compare ao frenesi atual. O pai e “tios” também anunciaram a volta do famoso Amigos, que reunia os principais cantores sertanejos da década de 90. Belos convites para uma volta ao passado, não!
 

Xuxa, Eliana e Angélica não ficaram para trás. As apresentadoras que disputavam à atenção dessa mesma galerinha louca por S&J aí acima, também voltaram. Juntas, relembram os tempos em que a criançada não sabia exatamente de qual loira gostava mais, mas fazem questão de destacar que são sim amigas, e que inclusive gostam do mesmo batom!
 

Brincadeiras (e nostalgia) à parte, sabe o que estas duas ações têm em comum? O passado. Despertar no público de uma época lembranças de momentos alegres, da infância, adolescência. Tempos em que geralmente se é feliz, se vive sem grandes preocupações.
 

Por trás de ações como estas estão marcas, empresários, empreendedores que visualizam tendências e as transformam em oportunidades. E no presente!

 

Já faz tempo que voltar ao passado têm sido algo bem visto pelas pessoas. Basta uma navegada pelas redes sociais e é possível ver a chuva de fotos todas as quintas-feiras com a famosa hashtag #TBT (throwback Thursday), uma volta ao passado com lembranças que vão de engraçadas a emocionantes. E a reconstrução de fotos? Geralmente resultam em momentos engraçadíssimos e cheios de interação, refazendo fotos feitas há anos atrás. Uma nostalgia sem fim.

 

É tendência

Não tem jeito. Chegamos a um momento over. A quantidade de escolhas que temos é infinita e estamos perdidos, por mais organizamos que possamos ser. A informação surge a cada segundo e por inúmeros canais. Somos cada um produtores de novas coisas a cada momento. Acompanhar tudo a toda hora se tornou um mal e tem feito muito mal a muita gente. Esta realidade já é sentida há algum tempo, o que muda agora é o fato de que marcas estão se atentando para isto como uma baita oportunidade. É o que mostra uma pesquisa da Spotify for Brands, onde 70% dos entrevistados afirmam que sempre vão se lembrar de marcas e produtos que fizeram parte dos momentos mais importantes de suas vidas.

 

O retrô está na moda

Sim, quanto mais velho, mais legal. Quanto mais lá atrás me levar, mais vou gostar! Fazer com que o consumidor faça uma viagem ao passado e resgate boas lembranças parece a nova senha de sucesso. Não à toa vemos cada dia mais linhas retrô de camisas de futebol, tênis com design antigos, a própria moda levando tendências lá dos anos 2000 de volta às passarelas e consequentemente às vitrines, às ruas.
 

Regatar nossas melhores histórias se tornou um grande negócio. Postar tudo a toda hora tem cansado. Estamos em busca de aproveitar os momentos, voltar a desfrutar de pausas e até mesmo do ócio, já comprovado que faz bem.

 

Seria o fim das redes sociais?

Já faz tempo que ouço premonições do tipo: esta rede vai acabar! Tá chata! Nem entro mais. Ou: nossa, todo mundo fica só postando o tempo todo, nem curte o momento real. Se tá tudo tão chato e todo mundo tão cansado, talvez seja o fim das redes sociais. Será?
 

Claro que não! Elas estão cada dia mais importantes, fazendo parte de estratégias de grandes empresas e figuras públicas que sabem como usá-las de forma consciente. O grande problema de quem reclama assim é o uso errado das redes, sem limite ou seleções.
 

Desacelerar e fazer um detox digital são desejos apontados pela maioria das pessoas em uma pesquisa realizada pela Ideia de Marketing. Outro ponto importante é a questão da segurança de dados. As detentoras das redes vão precisar tratar com mais cuidado do uso dos dados de usuários, que também buscam maior confiança neste quesito.
 

Ao fazer escolhas erradas dentro das redes os feeds se tornam realmente desinteressantes. Mas basta um pouco de organização e um exercício do bom e velho 5S e pronto: temos um feed legal! Conecte-se com marcas e pessoas com quem realmente se identifica e terá uma experiência positiva. E claro, use com moderação.

 

De volta ao passado

Então, como usar todas estas tendências e ferramentas a favor do seu negócio? Mesclando tudo! Claro, se sua marca permitir isso. Também não adianta forçar a barra, não cola. Tem que fazer sentido. O público tem que entender a sacada, senão não viraliza. É o caso da Eudora com as apresentadoras. Só funcionou porque o público alvo que a marca queria atingir divulgando suas maquiagens conhece muito cada uma das celebridades envolvidas. Fizeram parte da história delas, de quando “brigavam” pela audiência. Conhecem a fundo o fato de que eram rivais na época. Então fica fácil entender, funciona. Se as consumidoras da marca fossem de uma faixa etária abaixo dos 20 anos provavelmente a escolha de Xuxa, Eliana e Angélica não funcionaria.

 

Além de ações focadas em marketing e em buzz, algumas marcas reconhecem hoje que é o momento de dar um passo atrás, voltando a comercializar produtos que no passado perderam valor e ganharam status com versões consideradas modernas na época, mas que hoje representam pontos negativos à marca.

 

Um exemplo é a Coca-Cola. Além de novos produtos focados em saúde e bem-estar, como sucos e refrigerantes com menos açúcar, as embalagens retornáveis voltaram com tudo, e ganharam espaço até em propagandas na tv, no horário nobre. Nada mais nostálgico do que levar garrafas retornáveis para comprar um novo refrigerante e ainda mostrar ao público que a empresa preza pelo meio ambiente. Alô marcas de óleo de cozinha, tão perdendo a chance hein! Aquelas latas eram um barato!
 

Na mesma linha estão as padarias, incentivando o uso de embalagem de papel ao invés de plásticos para levar o pão.

 

São os velhos hábitos voltando à tona. E o mais legal de tudo é que estamos amando e valorizando muito isto.

 

E aí, já pensando em qual ação de nostalgia vai criar para sua marca?